mardi 30 mai 2006

António Reis não o sabia...

Pouco sei de nós que possa dizer,
e que queira dizer.
Sei - entraram uma vez, há muitos anos, na minha cabeça e no meu coração
e lá ficaram para sempre -
alguns versos perdidos e pouco mais,
uma palavra ou outra...
o último transido abraço poucos dias antes da sua morte.

Andávamos com os "Poemas Quotidianos" no bolso
e partilhávamo-los avaramente, nos cafés
e nas longas noites solitárias da adolescência,
como um fogo comum,
um sinal que nos identificava uns aos outros
como membros da mesma tribo errante.

Éramos todos jovens, ou julgávamos que éramos,
e acreditávamos, naqueles tempos controversos,
que nos havia sido dado o dom de,
pela poesia,
compreender e mudar o mundo e a vida.

António Reis não o sabia,
mas todas as palavras que então possuíamos
eram as suas palavras.

Manuel António Pina
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