mardi 5 décembre 2006

O passado é uma presença


Desvendando logo à partida as personagens e os lugares do seu filme
Encontros, Pierre-Marie Goulet liberta-se da cronologia de um relato demasiado preciso para guardar só as memórias.

Manuel António Pina não diz outra coisa quando afirma que somos feitos só de memórias. São a única coisa que temos em posse. A poesia é uma forma de construção da nossa memória. Acrescenta que não há passado só existe o presente. O passado existe no presente na forma de memória. É uma presença.
(…)
Como tratar do desaparecimento de um mundo, deste tempo de antigamente que o silêncio devora? Como não desesperar a pensar na perda de um maravilhoso imaginário, deste " qualquer coisa" maior do que a vida.

O dom para a poesia da Virgínia responde a esta interrogação. (…) Já presente no filme de Pierre-Marie Goulet dedicado a Giacometti (Polifonias, 1997), ela resplandece, ilumina Encontros de uma inspiração segura, que foi buscar à fonte da poesia popular.

Tem que se falar também da montagem do filme, desta maneira única do cineasta de ligar as personagens e os lugares, de traçar um território imaginário entre montes, campos de oliveiras e mar resplandecente.

A estrutura em circulo do filme, onde seguimos, afinal, o mesmo caminho rural através dos campos, acumula nesse último percurso os fulgores sonoros da obra inteira. E o ouvido redescobre-se atento a um afluxo que há muito nos habita, como o que se guarda em nós de uma memória, de um poema.
Serge Meurant
in Revue Doc.pt nº4/ Novembre 2006
version française ici

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